Figura colossal esculpida há mais de 3.000 anos em uma colina britânica
Nas vastas colinas da Inglaterra, entre as paisagens verdejantes e as neblinas que parecem esconder segredos milenares, encontra-se um símbolo que transcende a passagem do tempo:
O Cavalo Branco de Uffington.
Com aproximadamente três mil anos, esta figura monumental é um dos mais antigos pictogramas conhecidos no Reino Unido, e ainda hoje, a enigmática imagem do cavalo esculpido na encosta da colina pode ser vista de uma distância de até 32 quilômetros. Medindo 110 metros de comprimento, sua impressionante extensão faz dele uma obra notável, tanto pela escala quanto pelo mistério que envolve sua origem e propósito.
Localizado em Berkshire Downs, a cerca de 2,4 quilômetros ao sul da vila de Uffington, o Cavalo Branco foi criado por meio de uma técnica única e laboriosa. Ao escavar trincheiras de três metros de largura no solo, os antigos criadores expuseram a rocha de giz branco que existe sob a superfície. Essa rocha, contrastando com o verde intenso da colina, realça a figura e permite que ela seja vista de grandes distâncias, como um sinal visível de identidade ou de propósito para aqueles que habitavam ou passavam pela região. No entanto, o giz branco escurece com o passar do tempo, e por isso, durante séculos, os habitantes locais mantinham o costume de restaurar a figura anualmente, cobrindo-a com uma nova camada de giz. Essa tradição, que perdurou até o século XIX, é um testemunho da importância cultural e simbólica que o Cavalo Branco de Uffington teve para gerações de pessoas que viveram em suas proximidades.
Finalidade desconhecida
Mas quem teria sido responsável por essa criação monumental?
Qual seria a verdadeira intenção por trás da escultura de um cavalo em uma colina remota?
Até hoje, essas perguntas permanecem sem respostas definitivas, deixando o Cavalo Branco rodeado por um halo de mistério. Acredita-se que ele tenha sido fonte de inspiração para outras figuras semelhantes na região, mas a identidade dos criadores e a motivação por trás da sua concepção dividem historiadores e arqueólogos. Para alguns, a figura pode representar uma deusa protetora dos cavalos, associada às tribos belgas que habitavam o sul da Grã-Bretanha; essa deusa teria sido adorada como uma divindade associada à fertilidade e à prosperidade. Outros, no entanto, veem na imagem uma ligação com Epona, a deusa celta que protegia os cavalos e era amplamente reverenciada em toda a Europa antiga.
Curiosamente, outra teoria, mais fantasiosa, sugere que o Cavalo Branco de Uffington não representa um cavalo de fato, mas sim o dragão mítico de São Jorge, o santo padroeiro da Inglaterra. Segundo essa lenda, São Jorge teria derrotado um dragão que aterrorizava a região, e a figura esculpida na colina seria uma homenagem a esse feito heroico. Essa hipótese enraíza o Cavalo Branco na mitologia e na tradição popular inglesa, associando-o à luta entre o bem e o mal, à bravura e à proteção.
Outra interpretação fascinante propõe que o Cavalo Branco de Uffington poderia ter uma conexão com cultos solares, especialmente com o deus celta Beleno ou Belinos, uma divindade associada ao sol e à luz. De acordo com essa teoria, a posição da figura nas encostas da colina teria sido cuidadosamente escolhida para que o deus, visto como uma presença vigilante nos céus, pudesse contemplá-la do alto. Assim, a imagem funcionaria como uma oferenda monumental, um símbolo de reverência ao poder solar e à fertilidade da terra, duas forças essenciais para as sociedades da Idade do Bronze.
Além das teorias de cunho religioso e mítico, há quem sugira que o Cavalo Branco poderia ter sido um símbolo de identidade ou de pertencimento para um grupo específico, demarcando território ou exaltando uma característica cultural fundamental para os povos locais. Assim como as misteriosas Linhas de Nasca no Peru, que foram esculpidas na paisagem para serem vistas de cima, o Cavalo Branco de Uffington desafia nossa compreensão sobre a capacidade técnica e a motivação dos povos antigos. O fato de ele ser visível apenas a partir de uma posição elevada ou à distância é um detalhe intrigante, sugerindo que talvez sua função original fosse comunicar algo para aqueles que observavam a partir de um ponto de vista privilegiado — sejam divindades ou seres humanos.
Para além de seu valor arqueológico, a figura do Cavalo Branco de Uffington revela uma sofisticação artística impressionante para a Idade do Bronze. Os antigos artesãos demonstraram uma habilidade surpreendente ao esculpir uma figura de proporções precisas e linhas estilizadas, criando um design que, apesar de sua simplicidade aparente, carrega uma carga simbólica profunda. Essa representação artística sugere que a sociedade da época possuía um entendimento avançado de arte e perspectiva, além de um senso de beleza e proporção que transcende a simples função utilitária.
Resumo
O Cavalo Branco de Uffington permanece como um dos legados mais impressionantes da pré-história britânica, um enigma esculpido em giz que continua a provocar admiração e curiosidade. Ele é um elo entre o presente e o passado, um símbolo que resistiu ao tempo e que, mesmo após milhares de anos, mantém seu mistério intacto. Como um guardião silencioso nas colinas de Berkshire Downs, o Cavalo Branco nos lembra que, por mais que avancemos em conhecimento, ainda há perguntas sobre nossos antepassados que podem jamais ser completamente respondidas. Assim, o Cavalo Branco de Uffington não é apenas um símbolo da antiguidade, mas também uma prova da contínua busca humana por entender seu lugar no mundo, um monumento de nossa fascinação eterna com o desconhecido.